Igrejas, fábricas, estações de trem e até catacumbas viram casas!
Sustentabilidade e fantasia orientam retrofits
inusitados, que eliminam as diferenças
entre morar, trabalhar e se divertir.
À busca pelo novo somam-se ao sentimento ecológico e a
fantasia, ingredientes que estimulam os inusitados retrofts. Essas
revitalizações surgem da necessidade de integrar funções, eliminando diferenças
entre morar, trabalhar e divertir-se. E refletem a flexibilidade do homem
moderno”, avalia o arquiteto sueco Per-Johan Dahl, autor, junto de Caroline
Dahl, do livro Loft, que analisa o conceito dos
precursores dessa onda: os primeiros galpões industriais convertidos em casas,
há 20 anos.
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A IGREJA. Por fora uma típica
capela, por dentro uma casa moderna. Ao restaurar o prédio dos anos 20 para
abrigar sua nova morada, em Haarlo, na Holanda, o arquiteto Ronald Olthof, do
estúdio LKSVDD Architecten, tentou preservar ao máximo a construção original,
de 180 m². Telhas e tijolos de barro e a torre do sino foram apenas lavados com
água e sabão. O interior da capela
holandesa, porém, passou por uma reformulação e tanto. Teve o forro demolido
para deixar as vigas à mostra e ganhou piso de concreto aerado, além de
mezanino, onde fica o quarto do arquiteto Ronald Olthof. No térreo,
distribuem-se sala, cozinha e escritório – este na elevação antes destinada ao
altar. |
Trilhado na Europa e nos Estados Unidos desde os anos 60,
esse caminho popularizou-se na década seguinte, sob influência de intelectuais
como Jane Jacobs – autora de Morte e Vida de Grandes Cidades, um clássico do
urbanismo.
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A
ESTAÇÃO DE TREM. Vizinha ao parque nacional de Zuid-Kennemerland, nos arredores
de Amsterdã, a construção do final do século 19 estava abandonada desde os anos
90. Mas depois da transformação assinada por Steven Nobel, do Zecc architecten,
e Jeroen van Zwetselaar, do ZW6 Interiors, virou a acolhedora residência do
designer e seu filho de 4 anos. A primeira
medida de Steven Nobel e Jeroen van Zwerselaar foi retirar alterações recentes
que descaracterizavam a antiga estação. Depois, para crescer a planta em 80 m²,
a dupla adicionou duas estruturas de aço corten com amplas portas de vidro
duplo e cavou o subsolo, onde abriu espaço aos dois quartos e ao banheiro.
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Estimulado
pelo inconformismo, sintetiza um novo jeito de viver, de sentir, de ver o
mundo. “Meu prédio manteve sua herança cultural, e é muito bom saber que ele
ainda estará aqui em 100 anos”, fala Ronald Olthof, dono da casa-igreja. Outros
aspectos também atraem o interesse dos moradores: dimensões, valor dos imóveis
e qualidade construtiva. Edifícios mais velhos apresentam uma paleta de
materiais que muitas obras atuais já não podem se dar ao luxo de utilizar, como
ferro fundido e madeira nobre. Juntos, os três pontos são o retrato de um
movimento urbanístico bem mais amplo, em que entram desde a revitalização de
áreas deterioradas por intermédio de projetos inovadores até o ímpeto coletivo
de trocar o carro pela bicicleta. “Executado com sensibilidade, o retroft
mantém intacta a alma do lugar”, lembra Francis D. K. Ching, professor do
departamento de Arquitetura do College of Built Environments, da Universidade
de Washington. “O mix entre o velho e o novo dá a sensação de viver entre dois
mundos e ter o melhor de cada um”, resume o designer Jeroen van Zwetselaar, da
casa-estação.
[...] RETROFIT.
Quem lida no mundo da construção talvez nunca tenha ouvido falar tanto
em “retrofit” como nos últimos tempos. O termo em Inglês nada mais é do
que a popular “reforma”, mas aqui com um sentido de customizar, adaptar e
melhorar os equipamentos, conforto e possibilidades de uso de um antigo
edifício. Mas porque reformar ao invés de fazer um prédio novo? Bem, há
várias coisas a serem consideradas.
De algum tempo para cá o termo retrofit tem sido pronunciado com frequência crescente no quotidiano dos arquitetos, construtores e
decoradores. Com a tradução liberal de “colocar o antigo em boa forma”, o
termo retrofit tem sido amplamente empregado com o sentido de
renovação, de atualização mas mantendo as características intrínsecas do
bem retrofitado. Não se trata simplesmente de uma reconstrução, pois
esta implicaria em uma simples restauração. Ao invés disto, busca-se o
renascimento. No mundo da construção, a arte de retrofitar está aliada
ao conceito de preservação da memória e da história.
A prática do retrofit surgiu e foi desenvolvida na Europa, onde ocupa
importância crescente devido à enorme quantidade de edifícios antigos e
históricos.
A motivação principal é revitalizar antigos edifícios, aumentando sua
vida útil usando tecnologias avançadas em sistemas prediais e materiais
modernos, compatibilizando-os com as restrições urbanas e ocupacionais
atuais, sem falar da preservação do patrimônio histórico, sobretudo o
arquitetônico.
Na maior parte dos casos, o retrofit acaba saindo mais caro do que
derrubar o antigo edifício e construir um novo, mas quando se trata de
preservar o patrimônio histórico o custo é deixado de lado. Porém nem
sempre é assim -- um retrofit corretamente planejado, projetado e
executado poderá manter o edifico constantemente atualizado, a despeito
do desafio enfrentado, aumentando sua vida útil, diminuindo custos com
manutenção e aumentando suas possibilidades de uso. Por isto mesmo, o
retrofit pode e deve buscar, com eficiência, dotar o edifício de
atualidade tecnológica que possa traduzir-se em conforto, segurança e
funcionalidade para o usuário mas mantendo a viabilidade econômica para o
investidor.
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A CATACUMBA. Na cidade histórica de Civita di Bagnoregio, na Itália, o
arquiteto Patrizio Fradiani, do Studio F Design, criou um incrível espaço de
lazer numa rede subterrânea de túneis com 200 m² de área. Sob a construção do
século 14, uma escada escavada na rocha conduz a cavernas da era etrusca,
transformadas em sala de estar e de meditação, galeria de arte, adega, piscina e
jardim suspenso sobre os penhascos. Em respeito ao acervo precioso da cidade
histórica italiana, um geólogo acompanhou toda a obra. Materiais modernos foram
adicionados com parcimônia – muitos vindos de demolições. a terracota usada no
piso é artesanal; as pedras vulcânicas, originais.
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RETROFIT URBANO
O retrofit não se limita a edifícios, mas pode atingir também grandes
áreas urbanas, especialmente quando se aborda a questão da revitalização
urbana e atualização de construções. Em qualquer das situações o
retrofit tem o sentido de renovação, onde se pressupõe uma intervenção
integral, obrigando-se ao encontro de soluções nas fachadas, instalações
elétricas e hidráulicas, circulação, elevadores, proteção contra
incêndio e demais itens que caracterizam o uso do que existir de melhor
no mercado.
De tudo o que foi exposto, percebe-se que o retrofit deve buscar a
eficiência, pois é mais difícil do que iniciar uma obra, em função das
limitações físicas da antiga estrutura, entretanto, a redução do prazo e
a adequação geográfica do imóvel certamente estimulam cada vez mais a
adoção desta prática.